domingo, 25 de outubro de 2009

Carta sobre a felicidade de Epicuro a Meneceu - 3º parte

Nesta terceira parte de nossa reflexão sobre a terceira parte da carta sobre a felicidade de Epicuro para Meneceu faremos uma reflexão sobre sua visão do futuro que, em nossos dias, atribulam tanto as pessoas que estas “esquecem-se” do presente em que vivem. Este esquecimento acontece muitas vezes devido a esperança, ou seja, a fé que a maioria das pessoas possuem em um Deus que certamente não lhes deixaram “na mão”. Entretanto, tal atitude não seria uma forma de fugir de si e da responsabilidade que se tem, colocando-a em algo transcendente? Não que seja errada tal atitude, mas será que não estamos esquecendo do cumprimento também de nossas obrigações, de “arregaçarmos as mangas” e junto com Deus, ou seja, lá o que for que alguém acredite chegarmos a conquista tão almejada?
Depois, falaremos também sobre os prazeres que para Epicuro é a felicidade, contudo não é a prática de todos eles que nos trará a felicidade, muito pelo contrário, faz-se necessária uma moderação. A partir desta pequena introdução, iniciemos nossa reflexão:

“Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é totalmente nosso, nem totalmente não nosso, para não sermos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com toda a certeza, nem nos desesperarmos como se não estivesse por vir jamais”.

No início desta terceira parte pode-se notar que, como visto nas partes anteriores, qualquer tipo de preocupação é má, pois ela nos tira qualquer possibilidade de felicidade. Assim, como não se pode ter a certeza do amanhã e de que aquilo que desejamos iremos possuir, a melhor forma de evitar e suprimir esta angústia que permeia toda a humanidade é viver. Aquele velho jargão que sempre ouvimos cabe perfeitamente nesta parte: “Viver o hoje como se fosse o seu último dia”.
Se pararmos para analisar esta visão de Epicuro veremos que ele tem razão no que diz, afinal, se ficarmos esperando o amanhã que ainda não chegou deixaremos de viver o hoje, perdendo assim, uma oportunidade única que jamais irá se repetir. Ao contrário, se optarmos por esquecer o amanhã e vivermos com intensidade o presente à vida não será em vão, evitando qualquer possibilidade de frustração.

“Consideremos também que, dentre os desejos, há os que são naturais e os que são inúteis; dentre os que são naturais, há uns que são necessários e outros, apenas naturais; dentre os necessários, há alguns que são fundamentais para a felicidade, outros, para o bem estar corporal, outros ainda para a própria vida. E o conhecimento seguro dos desejos leva a direcionar toda a escolha e toda a recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz: em razão desse fim praticamos todas as nossas ações, para nos afastarmos da dor e do medo”.

Epicuro ao definir o que são os desejos, faz algo genial: utiliza-se da simplicidade, ou seja, existem dois tipos de desejos para ele os naturais e os inúteis. Depois, subdivide os naturais em necessários e apenas naturais; mas porque a genialidade se encontra em sua simplicidade? Vemos em nossos dias, muitas teorias sobre o que querer e como querer, porém uma questão como esta é difícil de se construir e desenvolver pois, o que é necessário para um é inútil para o outro. Epicuro, não entra neste mérito de descrever quais coisas se devem ou não possuir para ser feliz; segundo ele a felicidade consiste na manutenção saudável da vida e é aí que se encontra a genialidade de Epicuro. Com isso ele que afirmar que, seja qual for a sua vida, seja lá no que você acredite ou goste, a felicidade consiste na ausência da dor e do medo, isto é, da perturbação da alma. Que não são os preceitos vindos de fora que tornam o homem feliz, mas sim o tipo de vida que leva: se ela o afasta da dor e do medo, esta pode ser considerada uma vida feliz.

“Uma vez que tenhamos atingido este estado, toda a tempestade da alma se aplaca, e o ser vivo, não tendo que ir em busca de algo que lhe falta, nem procurar outra coisa a não ser o bem da alma e do corpo, estará satisfeito. De fato, só sentimos necessidade do prazer quando sofremos pela sua ausência; ao contrário, quando não sofremos, essa necessidade não se faz sentir”.

A vida feliz não necessita de prazer, porque ela é o próprio prazer. A procura por qualquer prazer é sinônimo de perturbação para Epicuro. Não que o homem após chegar neste estado de ausência de dor e de medo, deva se acomodar porque como ele mesmo afirma acima, a única coisa que devemos procurar é o bem da alma e do corpo, e nesta busca está incluído tudo aquilo que torna o homem feliz. A acomodação torna-se então um mal, pois ela não procura um bem maior a alma, fazendo assim que sofra e logo, procure pelo prazer.

“É por essa razão que afirmamos que o prazer é o início e o fim de uma vida feliz. Com efeito, nós o identificamos como o bem primeiro e inerente ao ser humano, em razão dele praticamos toda escolha e toda recusa, e a ele chegamos escolhendo todo bem de acordo com a distinção entre prazer e dor”.

O prazer é, desta forma o que conduz o homem à felicidade ou a dor, isto é, são as nossas escolhas que farão a vida feliz ou não. O prazer encontra-se no início da vida feliz, pois é ele que impulsiona o homem a buscar o fim das perturbações e conseqüentemente a manutenção do ser. Ela é também o fim porque uma feliz não procura prazeres, pelo fato de que ela é o próprio prazer.

“Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles nos advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo. Portanto, todo prazer constitui um bem para sua própria natureza; não obstante isso, nem todos são escolhidos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser sempre evitadas. Convém, portanto, avaliar todos os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos. Há ocasiões em que utilizamos um bem como se fosse um mal e, ao contrário, um mal como se fosse um bem”.

Aqui vemos que não é qualquer prazer que torna o homem feliz, é preciso distingui-los, mas vemos aqui – como já destacado acima - que Epicuro não aponta quais prazeres são, ele deixa apenas o caminho: o que propõe um bem para natureza do homem é o verdadeiro prazer. Ele quer que o homem pense antes de agir, ou seja, que ele pratique a filosofia; não agindo como a maioria das pessoas de nosso tempo que julga um prazer bom pelo bem que este fez na vida de outro.

“Consideramos ainda a auto-suficiência um grande bem; não que devamos nos satisfazer com pouco, mas para nos contentarmos como esse pouco caso não tenhamos o muito, honestamente convencidos de que desfrutam melhor a abundância os que menos dependem dela; tudo o que é natural é fácil de conseguir; difícil é tudo o que é inútil. Os alimentos mais simples proporcionam o mesmo prazer que as iguarias mais requintadas, desde que se remova a dor provocada pela falta: pão e água produzem o prazer mais profundo quando ingeridos por quem deles necessita”.

O desprezo por aquilo que se possui é um mal, pois nos leva a sempre desejar não por necessidade, mas, por vaidade e orgulho. Temos em nosso tempo um lema de que tudo o que conseguimos com dificuldade possui o verdadeiro valor, entretanto, para Epicuro é totalmente o contrário, o bem vindo através da dificuldade é totalmente inútil; o motivo de sua inutilidade é que se este fosse um bem verdadeiro viria de forma natural.

“Habituar-se às coisas simples, a um modo de vida não luxuoso, portanto, não só é conveniente para a saúde, como ainda proporciona ao homem os meios pra enfrentar corajosamente as adversidades da vida: nos períodos em que conseguimos levar uma existência rica, predispõe o nosso ânimo para melhor aproveitá-la, e nos prepara para enfrentar sem temos as vicissitudes da sorte”.

A conclusão de Epicuro nesta terceira parte resume aquilo que nossa sociedade, de forma geral, deveria compreender. Ela caminha na direção contrária do que pede Epicuro, ou seja, busca o luxo e o poder e por este motivo, que ela não é feliz, desencadeando depressões, medos, doenças e tristezas. Com base no caminho proposto por Epicuro, caminhemos rumo ao término de nossa reflexão em nosso próximo post.

2 comentários:

  1. Caro Walmir,
    a idéia de entrar no assunto da sua tão venerada Maria não é o divertimento, mas sim as explicações teológicas da verdade que infelizmente você passa longe. Reconheço que sou um pouco duro com pessoas cegas que não querem enxergar a verdade, mas venho aqui, como Cristão que sou, pedir-lhe desculpas pelos comentários que fiz à seu respeito, pois sei que não és tão ignorante o quanto pensava.
    Tenho por certo que você acha-se muito inteligente a ponto de sobrepujar o que verdadeiramente diz a Bíblia sagrada. Vejo a sua necessidade de falar o que pensa, e isso é de certa maneira louvável, mas tens que tomar cuidado em falar somente as coisas que tem fundamento, pois como dizia Platão "O sábio fala porque tem alguma coisa a dizer; o tolo porque tem que dizer alguma coisa"
    Sim, ia me esquecendo...
    Para maiores explicações sobre Maria postei alguma coisa no meu Blog sobre o assunto.
    Agora observe, não disponho do mesmo tempo que o amado Daladier tem em responder suas perguntas de preceitos instrutivos falhos, pois sou muito ocupado em estudar o que realmente vai me edificar na palavra de Deus.
    Peço paciência se demorar em responder suas opiniões, críticas e perguntas, pois como já disse, sou muito ocupado.


    http://www.irmaoricardo.blogspot.com

    "Os homens prudentes sabem sempre tirar proveito dos atos a que a necessidade os constrangeu."

    Niccolo Maquiavel

    Deus te abençoe!

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  2. Oláááá, muito curiosa pra ler a conclusão do seu pensamento sobre a carta...

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