terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A Moral em nossos dias...




“Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal” Kant


Se a sociedade em que vivemos está cada vez mais intolerante e conseqüentemente violenta um dos motivos apontados que ocasionariam tais atitudes seria a ausência de uma moral que possa regular as atitudes dos homens e mulheres que vivem nesta sociedade. Entretanto, uma dúvida me incomoda: estaria mesmo ausente essa moral? Pois, a cada escândalo que presenciamos – e que estão cada mais presentes nos telejornais – algumas pessoas, na maioria os mais vividos, dizem que isso é resultado de um mundo que perdeu o respeito e a moral dos tempos passados. Convido, então a você caro leitor a refletirmos sob o olhar de Immanuel Kant se realmente a sociedade em que vivemos possui esta ausência de uma moral, e se assim for que possamos descobrir onde ela se encontra – se for realmente possível determinar um local – ou, ao contrário se é o homem em sua própria opção que abandona a responsabilidade de seus atos e pratica-os ao seu bel-prazer.
Antes de qualquer coisa gostaria de me desculpar pela ausência no mês de novembro, porém tal ausência tem um motivo: o fim de minha graduação em Filosofia e que tomou uma grande parte do meu tempo. Agora, com tudo resolvido espero normalizar as postagens neste blog.
Kant, em seu livro Fundamentação da Metafísica dos Costumes, afirma que nada neste mundo ou até fora dele pode ser considerada como boa, menos uma: a Boa Vontade. Ele afirma ainda que mesmo os melhores talentos do espírito como a coragem e a perseverança podem ser caracterizadas como bons se comparados com a Boa Vontade. Mas o que seria esta Boa Vontade?
A Boa Vontade é boa porque ela é em si, ou seja, ela é absoluta; ela enquanto tal não busca nada nem possui finalidade alguma. Desta forma, a Boa Vontade de Kant não depende de inclinação alguma, sem reservas. Sendo assim, uma ação que possui em si alguma inclinação - seja ela qual for - não pode, segundo Kant, ser considerada boa.
A partir desta conclusão e trafegando pelo pensamento kantiano, vemos que ao nosso redor temos várias ações que em princípio parecem ser boas, no entanto, se partirmos da ética kantiana veremos que elas não seriam tão boas assim. Tomemos como exemplo a imagem abaixo:



O cúmulo da moral moderna, a contribuição para uma creche está condicionada
ao comportamento de terceiros.


Após ver essa imagem uma coisa com certeza lhe vem à cabeça: “eu já vi tal mensagem em algum lugar”, e é verdade! Em uma sociedade que não respeita o espaço do outro, a propriedade do outro, a saída que alguns proprietários encontram é a de amolecer os corações dos “srs. Pichadores”. Veja que, o dono deste estabelecimento em questão – e todos os outros – começa seu aviso com tratamento muito respeitoso: chama os pichadores de “senhores”. Definitivamente as coisas estão de “cabeça para baixo”, afinal costuma-se chamar de senhor o seu pai, o seu patrão ou uma pessoa que possui muito mais experiência de vida do que você. Entretanto, para que alguém possa economizar na lata de tinta ele precisa caracterizar o fora da lei de “senhor” e – o que é pior – precisa provar para ele que se eles contribuírem com o ele, o referido irá destinar uma parte de seus lucros com uma obra de caridade; na maioria das vezes uma creche.
Com isso fica difícil saber o que é pior: se a atitude do proprietário de uma parede limpa que implora através de um quadro para que não sujem a sua parede, ou ainda a forma com que o mesmo proprietário descobre para sensibilizar os pichadores: doando dinheiro. Surge assim uma pergunta: a doação deste proprietário somente pode ser feita se terceiros contribuírem com ele? Se partirmos da ética de Kant veremos que a ação deste proprietário jamais pode ser considerada como uma boa vontade pelo simples fato de que a sua contribuição não foi feita porque ele sabe que precisa que tal contribuição seja feita, mas sim se os “senhores pichadores” colaborarem com a limpeza de sua parede.
Mas qual seria a solução para este problema? Segundo Kant, conforme colocado logo no início deste post é agir como se a minha ação tivesse um caráter universal, ou seja, é entender que a cada ato meu todas as pessoas do mundo fizessem o mesmo. É a ação “por dever”, ação essa que é orientada por uma lei moral e que é fornecida pela razão do homem. Isto é, as ações humanas não devem trazer consigo um caráter emocional, ou seja, ele qual for, mas sim segundo os seus princípios, princípios esses chamados de imperativos. Estes princípios podem ser caracterizados como hipotéticos e categóricos.
Os princípios hipotéticos são os princípios assumidos por aquelas pessoas que agem conforme o exemplo dado da placa contra a pichação, ou seja, é uma ação que visa um fim, por exemplo: eu doei o dinheiro para esta ou aquela instituição se não picharem a minha parede. O imperativo categórico, ao contrário, age sem um fim específico, é a ação por dever, como por exemplo: respeitar os pais, os mais velhos, o próximo etc.Sem que esta ação tenha um fim a obter, isto é, os pais têm que ser respeitados por que eles devem ser respeitados e nada mais.
Assim, vemos que a moral que parecia perdida no início de minha postagem é uma responsabilidade de cada um de nós. Infelizmente, a grande maioria de nossas ações está condicionada a um objetivo pessoal e não por que elas precisam ser feitas. Com o retorno da Filosofia aos currículos escolares surge uma luz no fim do túnel, surge uma esperança de que as próximas gerações possam trazer consigo um pouco da ética de Kant tão necessária e ao mesmo tempo, tão esquecida.