Agora que sabemos as características principais daquilo que <é>, resta-nos procurar responder as questões elaboradas no início deste trabalho sobre aquilo que . Kirk, Raven e Schofield iniciam a busca pela resposta dos questionamentos colocados, destacando a impossibilidade de se conhecer aquilo que não existe. Entretanto, uma afirmação posterior feita por eles esclarece esta questão que, a princípio, parece ser insolúvel: “... impossível é, segundo parece, conhecer ou dar a conhecer o que não é uma coisa ou outra, o que não possui atributos e não tem predicados verdadeiros seus.”(KIRK, p. 256) O problema, portanto, ao procurar entender aquilo que , é justamente em estabelecer que este não é isto ou aquilo, sem características próprias e, por este motivo, incognoscível a qualquer pessoa. No entanto, outra característica apontada pelos autores sobre aquilo que , e que fornece nossa informação mais valiosa, se baseia no fato de que este não nasce nem morre. Tal afirmação é retirada do próprio Parmênides, como se segue: “... Não te permitirei que digas ou que penses a partir do que não é: pois é indizível e impensável o que não é... Por isso a Justiça jamais soltou as grilhetas para lhe permitir nascer ou perecer, antes as segura firmemente.”(KIRK, p. 260)
Todas estas conclusões, no entanto, ainda não oferecem a segurança necessária para as questões propostas no início deste trabalho sejam solucionadas. E isto acontece porque o caminho que proposto pela deusa ainda precisa de um melhor esclarecimento. No entanto, a pergunta proposta pelos autores sobre a função do verbo estin em nossa tradução já possui resposta: aquilo que <é>; necessariamente deve existir e, mais, mesmo que nesta realidade não existe nada que se assemelhe ao que <é>; este participa de tudo o que existe, assim tudo o que é só é devido a esta participação daquilo que <é>.
Logo, aquilo que em nada participa, pois não nasce e nem virá a nascer. Aparentemente, tal conclusão não resolve as questões propostas, entretanto, veremos que o que os autores classificam como O erro dos mortais (KIRK, p. 257) nos dão a resposta que precisamos e corrobora o caminho que é proposto pela deusa. A deusa apesar de advertir sobre a necessidade de escolher o caminho que <é>, no entanto, não é capaz de obrigar alguém a segui-lo. E é neste momento que o caminho daquilo que surge como opção, não como se ele realmente existisse – pois já vimos que este não pode existir, visto que ele nunca nasceu – mas como resultado da indecisão daquele que não escolheu o verdadeiro caminho. É na indecisão que “surge” o caminho que : “Isto te ordeno que ponderes, pois é este o primeiro caminho de investigação, do qual eu te afasto, logo, pois daquele, em que vagueiam os mortais que nada sabem, gente dicéfala...que julgam que ser e não ser são e não são a mesma coisa.” (KIRK, p. 257)
Para quem não sabe qual o verdadeiro caminho, não existe diferença entre aquilo que <é> e o que < não é>, esta não diferenciação iguala ambos os caminhos, o que é inaceitável para a deusa. Não deve existir a possibilidade do que seja, pois é forçoso – como afirma a deusa – que ele não seja, pois ele nada é. Mas, se a escolha pelo verdadeiro caminho não é feita, surge não somente o caminho daquilo que , mas ainda um terceiro caminho que é o da indecisão, da ignorância sobre aquilo que <é>.