Até que ponto um sindicato deve ir em busca dos interesses de seus associados?
Qual é a verdadeira missão de um sindicato?
Ainda que eu, um professor recém-formado, não tenha ainda muito que falar sobre a história de luta entre os professores e o Estado por melhores condições de trabalho e salário – lutas essas que perduram e que parecem não ter fim – não poderia deixar de diagnosticar uma falha (se é que, com a minha pequenez, seja capaz disso!) até certo ponto grave do sindicato dos professores, a APEOESP, no que diz respeito à avaliação dos professores feita pelo Estado para o cargo de professor temporário.
De início, a prova tinha um caráter classificatório, isto é, o governo do Estado de São Paulo estipulou uma pontuação mínima dos professores que almejam este cargo no ano de 2010.
Logo de início a APEOESP, se colocou contra esta posição do governo em classificar os professores pelo seu conhecimento, só não consigo entender o porquê....
No site do sindicato, o “fax urgente nº1” , de 11/01/2010 (http://apeoespsub.org.br/fax_urgente_2009/frame09.html), o sindicato conclama os professores a se reunirem para barrar o caráter eliminatório do provão, alegando dois motivos:
- A falta de tempo para uma bibliografia extensa;
- e a possível anulação ou que a mesma prova tenha caráter classificatório.
E justamente neste ponto encontra-se uma dúvida que em mim não se desfaz: qual é na realidade o objetivo do sindicato? Pois em um primeiro momento a prova é injusta pela sua bibliografia, porém, se o caráter da mesma prova tornar-se classificatório a bibliografia já não se torna um problema, mas sim uma solução.
De antemão gostaria de deixar claro que, não defendo aqui um lado ou outro e sim, procuro entender o que é melhor para nós professores e acima de tudo os alunos, nos quais não se tem pensado e logo direi o porquê.
Desta forma, em minha simples opinião, a APEOESP enquanto sindicato falhou e pior do que isto deu a resposta que o Governo do estado de São Paulo queria, sabia, mas não gostaria de dizer isso por si mesmo através do seu secretário de educação, Paulo Renato e sim por meio da uma prova eliminatória. Mas como?
A insistência pela anulação da prova por parte do sindicato alegando um direito a todos por emprego não se fundamenta por que não estamos lidando com uma matéria prima qualquer, mas sim lidando com o futuro do estado e logo do país: os alunos. E para que este futuro beneficie a todos – inclusive a nós professores – faz-se necessário professores bem preparados, bem pagos e principalmente entusiasmados com sua profissão, mesmo ela apresentando todos os seus perigos e dificuldades; afinal, vemos e vimos já a algum tempo o quanto os professores vêem sofrendo com a rebeldia dos alunos, pelo menos é o que se diz....
E por que afirmo isso?
Porque a APEOESP conseguiu o que tanto queria, conseguiu que a prova antes eliminatória fosse classificatória, e o principal: o governo aceitou, sem problemas, nem discussões, sem greves, adivinhem o motivo? Eles receberam a resposta desejada, pois viram a quantidade de professores que tiveram um desempenho pífio nesta prova e só conseguiram o tão sonhado “cargo” com os pontos – que não consigo entender a forma de contar tais pontos – que os professores obtêm com o tempo de serviço.
Quem ganhou esta briga? Estado e professores. O Estado porque percebeu a incapacidade dos professores (é claro que não são todos) que estão em seu quadro e descobriu onde se encontra a fonte do problema: a falta de conhecimento dos mesmos. O professores ganharam, principalmente os que não conseguiram um bom desempenho na prova outrora eliminatória e que agora possuem um rendimento a mais.
Quem perdeu esta briga? Estado, professores e alunos.
O Estado porque percebe que têm muita coisa a fazer se tiver realmente como objetivo mudar para melhor o ensino dentro do Estado de São Paulo abandonado por este mesmo governo – e é bom que isto seja destacado – nesta dinastia do PSDB em São Paulo.
Os professores porque possuem agora uma categoria enfraquecida e principalmente desmoralizada perante a sociedade que têm nos professores uma saída para o futuro de seus filhos. Não deixando de deixar também registrado que muitos professores que ultrapassaram a meta dos quarenta pontos exigidos na prova outrora eliminatória e que agora sendo classificatória, muitos serão prejudicados pelo fato de que aqueles que não estariam classificados agora estão e o pior de tudo, ocupando o lugar de um colega com conhecimento e vontade de trabalhar.
Os alunos, estes sim os maiores perdedores, pois terão um ano difícil, bem difícil.....
O que tem a ver este assunto com filosofia?
Tudo...
Pois eu me pergunto: no âmbito moral, foi correta a atitude do sindicato?
Creio que não, foi sim um moralismo...
A moral enquanto atitude individual de cada pessoa, de acordo com a moral kantiana, que preza uma atitude com âmbito universal certamente não existiu, o que existiu foi um moralismo, isto é, o julgamento do que se deveria fazer pelos outros, como afirma André Comte-Sponville:
“O que devo fazer?e não: “ O que os outros devem fazer?É o que distingue a moral do moralismo. (Apresentação da Filosofia, p.20).