domingo, 31 de janeiro de 2010

José Serra X APEOESP: Ponto para o Governador (infelizmente!!)


Até que ponto um sindicato deve ir em busca dos interesses de seus associados?

Qual é a verdadeira missão de um sindicato?

Ainda que eu, um professor recém-formado, não tenha ainda muito que falar sobre a história de luta entre os professores e o Estado por melhores condições de trabalho e salário – lutas essas que perduram e que parecem não ter fim – não poderia deixar de diagnosticar uma falha (se é que, com a minha pequenez, seja capaz disso!) até certo ponto grave do sindicato dos professores, a APEOESP, no que diz respeito à avaliação dos professores feita pelo Estado para o cargo de professor temporário.

De início, a prova tinha um caráter classificatório, isto é, o governo do Estado de São Paulo estipulou uma pontuação mínima dos professores que almejam este cargo no ano de 2010.



Logo de início a APEOESP, se colocou contra esta posição do governo em classificar os professores pelo seu conhecimento, só não consigo entender o porquê....



No site do sindicato, o “fax urgente nº1” , de 11/01/2010 (http://apeoespsub.org.br/fax_urgente_2009/frame09.html), o sindicato conclama os professores a se reunirem para barrar o caráter eliminatório do provão, alegando dois motivos:

- A falta de tempo para uma bibliografia extensa;

- e a possível anulação ou que a mesma prova tenha caráter classificatório.

E justamente neste ponto encontra-se uma dúvida que em mim não se desfaz: qual é na realidade o objetivo do sindicato? Pois em um primeiro momento a prova é injusta pela sua bibliografia, porém, se o caráter da mesma prova tornar-se classificatório a bibliografia já não se torna um problema, mas sim uma solução.

De antemão gostaria de deixar claro que, não defendo aqui um lado ou outro e sim, procuro entender o que é melhor para nós professores e acima de tudo os alunos, nos quais não se tem pensado e logo direi o porquê.

Desta forma, em minha simples opinião, a APEOESP enquanto sindicato falhou e pior do que isto deu a resposta que o Governo do estado de São Paulo queria, sabia, mas não gostaria de dizer isso por si mesmo através do seu secretário de educação, Paulo Renato e sim por meio da uma prova eliminatória. Mas como?

A insistência pela anulação da prova por parte do sindicato alegando um direito a todos por emprego não se fundamenta por que não estamos lidando com uma matéria prima qualquer, mas sim lidando com o futuro do estado e logo do país: os alunos. E para que este futuro beneficie a todos – inclusive a nós professores – faz-se necessário professores bem preparados, bem pagos e principalmente entusiasmados com sua profissão, mesmo ela apresentando todos os seus perigos e dificuldades; afinal, vemos e vimos já a algum tempo o quanto os professores vêem sofrendo com a rebeldia dos alunos, pelo menos é o que se diz....

E por que afirmo isso?

Porque a APEOESP conseguiu o que tanto queria, conseguiu que a prova antes eliminatória fosse classificatória, e o principal: o governo aceitou, sem problemas, nem discussões, sem greves, adivinhem o motivo? Eles receberam a resposta desejada, pois viram a quantidade de professores que tiveram um desempenho pífio nesta prova e só conseguiram o tão sonhado “cargo” com os pontos – que não consigo entender a forma de contar tais pontos – que os professores obtêm com o tempo de serviço.



Quem ganhou esta briga? Estado e professores. O Estado porque percebeu a incapacidade dos professores (é claro que não são todos) que estão em seu quadro e descobriu onde se encontra a fonte do problema: a falta de conhecimento dos mesmos. O professores ganharam, principalmente os que não conseguiram um bom desempenho na prova outrora eliminatória e que agora possuem um rendimento a mais.



Quem perdeu esta briga? Estado, professores e alunos.

O Estado porque percebe que têm muita coisa a fazer se tiver realmente como objetivo mudar para melhor o ensino dentro do Estado de São Paulo abandonado por este mesmo governo – e é bom que isto seja destacado – nesta dinastia do PSDB em São Paulo.

Os professores porque possuem agora uma categoria enfraquecida e principalmente desmoralizada perante a sociedade que têm nos professores uma saída para o futuro de seus filhos. Não deixando de deixar também registrado que muitos professores que ultrapassaram a meta dos quarenta pontos exigidos na prova outrora eliminatória e que agora sendo classificatória, muitos serão prejudicados pelo fato de que aqueles que não estariam classificados agora estão e o pior de tudo, ocupando o lugar de um colega com conhecimento e vontade de trabalhar.

Os alunos, estes sim os maiores perdedores, pois terão um ano difícil, bem difícil.....



O que tem a ver este assunto com filosofia?

Tudo...

Pois eu me pergunto: no âmbito moral, foi correta a atitude do sindicato?

Creio que não, foi sim um moralismo...

A moral enquanto atitude individual de cada pessoa, de acordo com a moral kantiana, que preza uma atitude com âmbito universal certamente não existiu, o que existiu foi um moralismo, isto é, o julgamento do que se deveria fazer pelos outros, como afirma André Comte-Sponville:


“O que devo fazer?e não: “ O que os outros devem fazer?É o que distingue a moral do moralismo. (Apresentação da Filosofia, p.20).

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A moral religiosa seria capaz de orientar a sociedade?


Passamos por mais um natal que, para muitos, é um tempo de reflexão, de amor, amizade, enfim todas aquelas coisas bonitas que a grande maioria das pessoas vê aflorar nesta época do ano. Porém, estes sentimentos suscitados somente surgem de uma forma mais intensa nesta época e por que? Será que o tempo de reflexão, de amor, de amizade só devem ser praticadas no mês de dezembro? E o que se faz nos outros onze meses do ano? Ódio, ações movidas por impulsos e inimizades?
Acredito que a causa desta “mudança” de comportamento da maioria das pessoas deve-se a influência da religião cristã, afinal, é nesta época do ano que se comemora o nascimento de Jesus Cristo. A lembrança da encarnação do Filho de Deus traz aos cristãos uma nova esperança sobre as dificuldades que cotidianamente os assolam e, mais do que isso, a certeza de que Deus está com eles, que não os abandona; prova disto é o envio do seu único filho para salvar os Homens.
Seria a religião – seja ela qual for – com a sua respectiva moral, a solução para os problemas da ausência de uma moral entre os homens? Se tomarmos como exemplo a religião cristã veremos que alguns dos que a praticam e seguem-na não agem de acordo com os seus mandamentos; porém, e este é o tema que gostaria de refletir é que é justamente a religião a responsável pela conversão de muitas pessoas que “sofriam” devido à ausência de uma moral e a partir dela possuem a oportunidade de viver uma nova vida. Será esse o principal papel da religião, isto é, o de re-socializar aqueles que a sociedade com suas leis não consegue fazer que sejam cumpridas?
Certamente alguém conhecido seu ou até você mesmo(a) que lê este texto, teve uma vida transformada pelo auxílio da religião, um ex-alcóolatra, um ex-drogado e também aquele que abandona uma vida marcada pela criminalidade pela vida “religiosa”. A forma como essa mudança acontece é descrita muitas vezes como um milagre ou como um “chamado” de Deus que chama este ou aquele homem a mudar o seu comportamento, a sua forma de vida, e a partir deste milagre ou encontro com Deus a vida outrora considerada pecadora é abandonada e em seu lugar surge uma vida “santa”, isto é, com comportamentos santos.
E qual a fonte deste novo comportamento santo e religioso do homem? A Palavra Divina, as Sagradas Escrituras que com os seus mandamentos ordenam a vida do homem, mostrando a ele o que este deve ou não fazer, e tais comportamentos devem ser seguidos a risca porque não foram criados por um homem mas, sim por Deus. Podemos concluir desta forma, que Deus é a fonte da moral humana?
Para que possamos chegar em um ponto satisfatório que nos permita responder – ou chegar próximo – a esta pergunta procuremos analisar a forma com que um grupo de cristãos costuma tratar a moral religiosa: os evangélicos. Se uma coisa que se deve considerar de grande valia por parte destes é a capacidade de conversão daqueles que ainda não possuem uma religião ou que ainda não se encontraram em alguma, com bordões clássicos como, por exemplo: “você já aceitou Jesus?” e pregando uma conduta totalmente diversa da doutrina católica, baseando-se principalmente nas idéias de Martinho Lutero como o livre exame da bíblia e a certeza da salvação por Deus, algumas igrejas impõem regras severas de conduta para aqueles que a seguem transformando a vida deste recém-convertido de forma radical.
E é neste ponto que fica latente o objetivo no qual queremos chegar, pois, apesar de “comungarem” de um mesmo ponto de vista, ou seja, a aversão aos dogmas católicos, cada denominação evangélica segue a doutrina estabelecida por seu fundador que interpreta as palavras de Jesus a seu modo.


Entretanto, em um ponto elas novamente voltam a interligar-se: aqueles que se convertem devem esquecer os erros cometidos antes da conversão porque “Deus quer” e mais, tudo aquilo que ele for fazer, todos os seus movimentos devem, antes de tudo, estar de acordo com a bíblia, isto é, com a Palavra de Deus. Se a ação for “aprovada por Deus” deve ser feita, caso contrário, a sua ação culmina em pecado.
Entre as mais variadas ações de Deus na vida dos homens estaria também a de impor uma moral aos homens de forma arbitrária? O que é certo fazer é aquilo que Deus quer?
Ao meu ver não...
E digo o porque!
Se a bíblia mesmo afirma que Deus é amor (1Jo 4,16), ela nos mostra que a vontade de Deus não age de forma arbitrária em nossa vida, porém, é preciso ratificar que o fundamento da moral seria, seguindo esse raciocínio, o amor; pelo contrário, a base da moral religiosa é o amor de Deus. Assim, ao agirmos com amor, estamos agindo conforme Deus quer, percebe-se, portanto o erro que muitas denominações religiosas cometem ao “engessar” a visão do homem criando nele uma visão de um Deus como um Juiz autoritário que não permite ao homem descobrir por si mesmo como ele deve agir.
A religião, portanto, não deve ser utilizada como um freio moral para transformar os atos do homem; é preciso que o homem tenha consciência do que é, quem é, resolver-se enquanto ser humano para depois ir ao encontro de Deus e agir conforme o seu amor. Infelizmente, não temos pessoas transformadas pela ação de Deus, o homem antigo e “pecador” ainda está lá, como um animal preso e esperando o momento para se soltar e voltar a atacar; é necessária uma conscientização do homem do seu papel enquanto ser humano e por isso a grande importância da filosofia neste contexto. É ela que irá auxiliar o homem, a saber, o que deve fazer enquanto ser racional, que tem algo que os animais não possuem que é a capacidade de julgar, compreender e escolher entre o certo e o errado.