domingo, 26 de abril de 2009

A FALTA DE LAICIDADE PODE TRAZER PROBLEMAS AO ESTADO?


Provavelmente você que lê este artigo já deve ter encontrado em alguma repartição pública um crucifixo ou alguma imagem de santos católicos, e se acaso você se lembra de tal fato, não sendo católico, deve - ou ainda não – ter se perguntado: se o Estado é laico, porque tais símbolos ainda preenchem tais espaços? Recentemente li em um artigo de uma revista sobre filosofia a qual assino que tais símbolos causam desrespeito às diferenças religiosas e a isonomia entre as pessoas. Será?

O artigo em questão chama-se O poder da Fé, do jornalista Rodrigo Gallo, nele ele aponta como sendo um problema a existência de tais símbolos religiosos. Ele também destaca a visão de um filósofo da Unicamp chamado Roberto Romano que vê a relação entre Igreja e Estado como sendo “nociva” a sociedade pelo fato do pensamento cristão (e nas entrelinhas católico) é carregado de dogmas como o aborto, a união de homossexuais, o uso de preservativos e as pesquisas com células tronco por exemplo. Em um Estado não-laico ele afirma que tais questões “não possuiriam espaço e que inibiriam os jovens levando-os a iniciar uma vida sexual sem qualquer orientação. Será?

Em países como Portugal e França, ações pró-laicas vêm sendo tomadas para evitar o que para ele é uma “discriminação”. Em Portugal, por exemplo, tornou-se proibido utilizar nomes de santos em instituições públicas; na França tornou-se proibido qualquer tipo símbolos religiosos em instituições públicas, inclusive as crianças islâmicas que vivem neste país, tiveram que abandonar suas burcas para poder freqüentar a escola. Todas estas atitudes me levam a suscitar uma pergunta: Existirá a tão sonhada isonomia (igualdade) no Estado se tomadas estas decisões em nosso país, ou nestes países que citei? Ou então aquela pergunta que habita a maioria das pessoas: Não existe coisa mais importante para se fazer?

Bom, quanto a laicidade do Estado eu não vejo problema algum em retirar os santos e os crucifixos das instituições, se realmente causam tantos problemas, se eles chegam a “ofender” aos não católicos, que assim seja. O problema é muito mais profundo do que aparenta. O homem como se sabe, quer desde o surgimento da filosofia moderna tomar o lugar de Deus, a religião é vista como ideologia, alienação, loucura e, portanto, tem seu espaço reduzido na sociedade. Ao contrário do que diz Romano quando ele afirma que em um Estado não-laico questões como aborto e células tronco não encontrariam espaço, a Igreja quer sim o debate sobre tais questões, pois ela sabe qual é o verdadeiro motivo que o Estado que a aprovação de tais leis: econômico. Por trás desta luta pela aprovação das pesquisas com células tronco e conseqüentemente o aborto estão grandes empresas farmacêuticas que aguardam ansiosamente a aprovação de tais leis para faturar bilhões de dólares. Não podemos ser ingênuos se acreditarmos nesta conversa divulgada pelos defensores de tal causa que muitas vidas poderão ser salvas e muitos deficientes poderão recuperar seus movimentos; isto será acessível apenas aos que possuem meios financeiros para tal, o Estado Brasileiro com certeza não irá arcar com tais despesas disponibilizando-as no S.U.S, tanto é verdade que vemos muitos casos de pessoas com doenças raras e que precisam de medicamentos caros para continuar sobrevivendo precisam entrar na justiça para exigir que o Estado responsabilize-se pela compra de tal medicamento. Não é a Igreja que torna difícil o debate, mas sim o próprio Estado. Pensem como seria bem mais fácil aprovar tal lei sem o consentimento da população sobre tais questões, até porque não me lembro de nenhum plebiscito referente tais questões e se elas irão realmente beneficiar o povo; podemos tomar como analogia o surgimento da tão comentada TV Digital (HDTV). Pergunto-lhe, quantas pessoas que você - que agora lê este artigo - possui o tão aclamado receptor de baixo custo? Vamos para dois anos desde o seu surgimento e ainda vejo muitas antenas repletas de Bombril!

E quanto à isonomia tão aclamada que viria com a laicidade do Estado, não acredito que ela virá, até porque o autor deste artigo deveria saber que a revista que a qual ele escreveu tal artigo não é de um preço tão acessível a todas as pessoas ( e nem a mim que é mais uma dívida entre muitas que assumi), portanto nem todos tem o acesso igual a todos os tipos de meios de comunicação. O Estado não oferece isonomia na educação, na saúde, na segurança pública, nas moradias populares e não é através da retirada de símbolos que ele irá dar o primeiro passo para essa igualdade. O capitalismo impede qualquer tipo de igualdade/isonomia, quem tem é superior aquele que não tem.

As diferentes vertentes religiosas existentes devem sim ser respeitadas e tratadas sim em igualdade pelo Estado. Acredito que a liberdade se dá justamente no surgimento da oposição, onde as idéias podem ser debatidas e conseqüentemente nos colocaríamos no caminho da verdade. Em contrapartida existem alguns assuntos tratados com certa ambigüidade de interesses, não que este assunto não seja importante, mas em um país onde quem rouba um pão com manteiga para matar sua fome – não que seja uma justificativa para o ato, pois roubar nunca é correto – corre o risco de ficar preso por até três anos e é tratado como um marginal, não procurando compreender o seu contexto de vida, tem por outro lado, banqueiros roubando milhões e soltos através de habeas corpus inumeráveis e desfrutando dos benefícios da lei. Qual isonomia queremos?

sexta-feira, 10 de abril de 2009





UM BISPO CORAJOSO X MÍDIA/GOVERNO "DEFENSORES DA VIDA"





No mês passado um assunto de grande polêmica repercutiu em todo o país onde um padrasto (se é que pode ser chamado como tal) engravidou sua própria filha de apenas nove anos. Infelizmente este seria mais um de muitos abusos que acontecem com as nossas crianças se não fosse por dois motivos: O primeiro é que a gravidez da menina (como desgraça pouca é bobagem!) era de gêmeos e, portanto uma gravidez de alto risco, visto que a menina possuía apenas nove anos sendo assim necessário – na visão dos médicos que acompanhavam o caso – o aborto, visando salvaguardar a vida da criança. O outro motivo – que foi o que deu importância ao caso - é a posição da Igreja Católica com relação ao aborto e a sua defesa em valor da vida, que no caso em questão anunciava a excomunhão dos médicos e da família da menina caso estes optassem pelo aborto das crianças.
E o aborto aconteceu. A excomunhão também. E os ataques a Igreja considerada como “medieval”, “atrasada”, entre outros começaram. E não foram poucos, todos os tipos de meios de comunicação condenavam a atitude do bispo Dom José Cardoso Sobrinho da Arquidiocese de Olinda, por ter excomungado a equipe médica que participou do aborto das crianças e também a mãe da menina. Do palácio do Planalto o nosso ministro da Saúde José Gomes Temporão classificou a atitude do bispo e conseqüentemente da Igreja Católica como “lamentável” e o Presidente da República, o popular Lula classificou a atitude da Igreja como “conservadora”.
Com base em tudo isso que citei, convém agora refletirmos um pouco. A Igreja Católica tem – como já dito acima – em seu fundamento a defesa da vida e por isso que ela condena qualquer tipo de atentado a essa mesma vida desde a sua geração até a sua velhice. Seria meio estranho, e até contraditório, que o posicionamento da Igreja em favor do aborto destas crianças, pois, se ela defende a vida não a pode defender em alguns momentos e sim na sua totalidade. Esta semana ouvi que a posição da Igreja foi “exagerada”, ora se ela é a favor da vida não ter outro tipo de posição, não existe um meio termo, ou é ou não é. A Igreja antes de tudo confia em Deus, será que Ele não seria capaz de garantir de garantir a vida a esta menina? A Escritura Sagrada nos diz que Sara mulher de Abraão, concebeu Isaac já em sua velhice contrariando toda a sua natureza, visto que Sara ao ouvir a mensagem do anjo pôs-se a rir (Gn18, 12), ou seja, nem ela mesma acredita que poderia ser mãe; a mesma Escritura nos diz também que Jesus nasceu do ventre de Maria que era virgem, ela de uma forma totalmente diferente de Sara, ao ouvir a anunciação do anjo perguntou-lhe como isso se daria visto que era virgem, e o anjo ao dizer como ela iria conceber o menino, terminou a anunciação dizendo que “para Deus nada é impossível.” (Lc 1, 37).
O Estado Brasileiro, ao contrário não confia em Deus. Muito menos seus governantes, eles confiam na contingência da ciência. Quem é que pode me garantir que aquela criança morreria? Alguns podem dizer-me que eles são médicos experientes, com muitos anos de profissão e que esta mesma experiência lhes garantiria este fato. Eu responderia citando o cético David Hume, ele em seu livro Investigação sobre o Entendimento Humano, nos diz citando o exemplo de uma bola de bilhar que, ao dermos uma tacada em uma bola “A” e esta movimentar outra bola “B”, o fato de que isso sempre aconteceu, ou seja, que seja uma constante que toda vez que eu bata numa bola ela movimente outra, não significa, necessariamente, que isso irá sempre acontecer. Da mesma forma o fato do sol ter nascido todos os dias de minha vida até este momento, nada – absolutamente NADA – me garante que o sol irá nascer amanhã. É o hábito, o costume que me faz tornar necessário, aquilo que a experiência me coloca, Hume quer com isso afirmar que a necessidade não existe nas coisas e sim em nosso espírito.
Portanto, a posição dos médicos no caso desta menina no meu modo de ver é arbitrária, inconseqüente e acima de tudo irresponsável tanto do meu ponto de vista filosófico, como mostrei acima, como de meu ponto de vista cristão e católico, visto que para Deus nada é impossível. Em ambos os casos pode até haver posições contrárias, mas não podemos encontrar nenhum absurdo em ambos os pontos. Tomaram uma decisão da qual eles não poderiam garantir nada, se fundaram em algo contingente, mutável, com 99,9% de certeza, mas não 100%.
Nosso estado, pelo contrário, não é exemplo de garantia de vida para ninguém. Observando o ponto de vista de aspecto “superior” de nosso presidente e de nosso ministro da saúde, até nos dá a impressão de que nosso país é o melhor para se viver, um país justo e igual. Será? O ministro da saúde, que é aquele que adora distribuir camisinhas no carnaval, ou seja, não importa a idade para se fazer sexo, importa sim é estar protegido; ele ao criticar as leis da Igreja, não vê também que em nosso país as leis no âmbito da saúde sequer são cumpridas? Se você que lê este artigo, precisar de um hospital público deve reservar duas horas (pelo menos!!) para ser atendido, mas esse “ser atendido” ao qual me refiro não é um atendimento de qualidade que compensasse tanta espera, pelo contrário, esse atendimento é apenas primário você irá a uma outra fila, em frente a sala do médico desejado, e aguardar mais alguns instantes, que na maioria das vezes não são instantes. Nem vou citar o caso do Rio de Janeiro, que há algum tempo atrás, o mosquito da dengue foi mais presente que pernilongos em noites quentes de verão, e também aqueles casos onde as pessoas vão embora sem qualquer tipo de auxílio médico, isso quando não morrem na fila....Bom deixemos nossa saúde que não é “lamentável” quanto as leis da Igreja, pelo contrário, são bem humanas como nos exemplos que citei acima, ás vezes até acho que o povo reclama de barriga cheia, afinal o que é esperar duas, três horas para ser atendido de graça???? O que é uma picada de Aedes Egypti? Se depois de picado teremos um atendimento de qualidade...
Partindo da saúde, e refletindo sobre as leis criminais deste país veremos que o padrasto que cometeu esta barbaridade, daqui a alguns anos - se ele se comportar como um bom menino - estará solto novamente, pronto para estuprar mais alguém,vejam só como o nosso Lula tem razão em criticar a atitude da Igreja, afinal as nossas leis não são tão conservadoras quanto ás da Igreja, visto que as leis desta são milenares, já as do nosso Estado, referente nosso código penal é de outubro de 1941 (em comparação com as leis da Igreja não são tão conservadoras assim!!!). Assim, como temos um Estado justo, ele já prendeu o padrasto, conquanto que ele não tenha um bom advogado, pois sempre cabe algum Habeas Corpus...E não podemos esquecer que, até uma saída definitiva, ele poderá sair no natal, ano novo, dia das mães, dos pais, e vejam só até no dia das crianças!. Sem contar também que apesar de tantos casos de abusos contra crianças ainda não possuímos em nossa legislação, uma punição específica para a pedofilia, mas não podemos desanimar, uma hora ela aparece...
A mídia em si é ignorante não porque não possua pessoas preparadas para tal, até porque seríamos injustos em julgar o todo através de suas partes, mas sua ignorância reside no fato de que ela destaca notícias que sejam capazes de vender jornais e revistas, jamais encontraremos em uma capa de jornal tamanha exploração dos temas que citei acima referente a saúde ou a qualquer crime cometido, até porque há muitas “interferências” impedindo que isso aconteça. Mas, em meio a tantas críticas, o Bispo José Sobrinho mostrou o que a Igreja sempre defendeu e continuará defendendo: a Vida. Dessa maneira ela errou ao dizer que o Bispo excomungou tais pessoas, mas sim elas mesmas que, ao cometerem este duplo assassinato automaticamente se excomungaram, cabendo ao Bispo somente anunciar o fato. Da mesma forma, também o padrasto ao cometer tal atrocidade automaticamente se excluiu da comunhão da Igreja, mas nossa sociedade quer sangue, ela queria que também a Igreja se pronunciasse sobre este ato, como se ela não se importasse com ele. Mas uma questão muito maior estava em jogo, pois as vidas de duas crianças foram cruelmente dizimadas, elas não tiveram a chance de viver e por quê? Porque nossa sociedade, não toda mas a grande maioria, inclusive católicos, confia na medicina e na ciência. Não que não devesse confiar, pois ambas conseguiram grandes avanços que melhoraram e muito a qualidade de vida de muitas pessoas, mas a salvação de uma vida não pode e não deve acontecer pelo sangue de outra. O padrasto ao cometer tal fato, ele também se excluiu da comunhão da Igreja como os médicos que cometeram este duplo homicídio, mas o mundo não acabou para ambos; há a possibilidade do perdão, afinal Deus é amor.
Por fim, deixo uma questão: o que é pior o estupro ou a morte? Em qual deles há a possibilidade de um recomeço, mesmo que doloroso? A menina que foi brutalmente molestada, pode sim superar este trauma e viver...


Mas, e as crianças que ela esperava? Existirá um recomeço????