Provavelmente você que lê este artigo já deve ter encontrado em alguma repartição pública um crucifixo ou alguma imagem de santos católicos, e se acaso você se lembra de tal fato, não sendo católico, deve - ou ainda não – ter se perguntado: se o Estado é laico, porque tais símbolos ainda preenchem tais espaços? Recentemente li em um artigo de uma revista sobre filosofia a qual assino que tais símbolos causam desrespeito às diferenças religiosas e a isonomia entre as pessoas. Será?
O artigo em questão chama-se O poder da Fé, do jornalista Rodrigo Gallo, nele ele aponta como sendo um problema a existência de tais símbolos religiosos. Ele também destaca a visão de um filósofo da Unicamp chamado Roberto Romano que vê a relação entre Igreja e Estado como sendo “nociva” a sociedade pelo fato do pensamento cristão (e nas entrelinhas católico) é carregado de dogmas como o aborto, a união de homossexuais, o uso de preservativos e as pesquisas com células tronco por exemplo. Em um Estado não-laico ele afirma que tais questões “não possuiriam espaço e que inibiriam os jovens levando-os a iniciar uma vida sexual sem qualquer orientação. Será?
Em países como Portugal e França, ações pró-laicas vêm sendo tomadas para evitar o que para ele é uma “discriminação”. Em Portugal, por exemplo, tornou-se proibido utilizar nomes de santos em instituições públicas; na França tornou-se proibido qualquer tipo símbolos religiosos em instituições públicas, inclusive as crianças islâmicas que vivem neste país, tiveram que abandonar suas burcas para poder freqüentar a escola. Todas estas atitudes me levam a suscitar uma pergunta: Existirá a tão sonhada isonomia (igualdade) no Estado se tomadas estas decisões em nosso país, ou nestes países que citei? Ou então aquela pergunta que habita a maioria das pessoas: Não existe coisa mais importante para se fazer?
Bom, quanto a laicidade do Estado eu não vejo problema algum em retirar os santos e os crucifixos das instituições, se realmente causam tantos problemas, se eles chegam a “ofender” aos não católicos, que assim seja. O problema é muito mais profundo do que aparenta. O homem como se sabe, quer desde o surgimento da filosofia moderna tomar o lugar de Deus, a religião é vista como ideologia, alienação, loucura e, portanto, tem seu espaço reduzido na sociedade. Ao contrário do que diz Romano quando ele afirma que em um Estado não-laico questões como aborto e células tronco não encontrariam espaço, a Igreja quer sim o debate sobre tais questões, pois ela sabe qual é o verdadeiro motivo que o Estado que a aprovação de tais leis: econômico. Por trás desta luta pela aprovação das pesquisas com células tronco e conseqüentemente o aborto estão grandes empresas farmacêuticas que aguardam ansiosamente a aprovação de tais leis para faturar bilhões de dólares. Não podemos ser ingênuos se acreditarmos nesta conversa divulgada pelos defensores de tal causa que muitas vidas poderão ser salvas e muitos deficientes poderão recuperar seus movimentos; isto será acessível apenas aos que possuem meios financeiros para tal, o Estado Brasileiro com certeza não irá arcar com tais despesas disponibilizando-as no S.U.S, tanto é verdade que vemos muitos casos de pessoas com doenças raras e que precisam de medicamentos caros para continuar sobrevivendo precisam entrar na justiça para exigir que o Estado responsabilize-se pela compra de tal medicamento. Não é a Igreja que torna difícil o debate, mas sim o próprio Estado. Pensem como seria bem mais fácil aprovar tal lei sem o consentimento da população sobre tais questões, até porque não me lembro de nenhum plebiscito referente tais questões e se elas irão realmente beneficiar o povo; podemos tomar como analogia o surgimento da tão comentada TV Digital (HDTV). Pergunto-lhe, quantas pessoas que você - que agora lê este artigo - possui o tão aclamado receptor de baixo custo? Vamos para dois anos desde o seu surgimento e ainda vejo muitas antenas repletas de Bombril!
E quanto à isonomia tão aclamada que viria com a laicidade do Estado, não acredito que ela virá, até porque o autor deste artigo deveria saber que a revista que a qual ele escreveu tal artigo não é de um preço tão acessível a todas as pessoas ( e nem a mim que é mais uma dívida entre muitas que assumi), portanto nem todos tem o acesso igual a todos os tipos de meios de comunicação. O Estado não oferece isonomia na educação, na saúde, na segurança pública, nas moradias populares e não é através da retirada de símbolos que ele irá dar o primeiro passo para essa igualdade. O capitalismo impede qualquer tipo de igualdade/isonomia, quem tem é superior aquele que não tem.
As diferentes vertentes religiosas existentes devem sim ser respeitadas e tratadas sim em igualdade pelo Estado. Acredito que a liberdade se dá justamente no surgimento da oposição, onde as idéias podem ser debatidas e conseqüentemente nos colocaríamos no caminho da verdade. Em contrapartida existem alguns assuntos tratados com certa ambigüidade de interesses, não que este assunto não seja importante, mas em um país onde quem rouba um pão com manteiga para matar sua fome – não que seja uma justificativa para o ato, pois roubar nunca é correto – corre o risco de ficar preso por até três anos e é tratado como um marginal, não procurando compreender o seu contexto de vida, tem por outro lado, banqueiros roubando milhões e soltos através de habeas corpus inumeráveis e desfrutando dos benefícios da lei. Qual isonomia queremos?